Andreia Constantino
Andreia Constantino nunca recusa um desafio. É sobre este fundamento que assenta o percurso da jovem designer, que mais do que seguir tendências pretende dar forma a boas ideias.
"Gosto de pensar que cada trabalho desenvolvido tem um imaginário gráfico próprio que o distingue e lhe confere personalidade. Perco-me no universo das formas e cores, mas encontro-me quando estes elementos juntos passam uma mensagem"
Existe alguma referência visual em particular ou ideologia, que tentes explorar no teu trabalho?
Vasculhando na história confesso que o trabalho de El Lissitzky me marcou. Entendidos naquele contexto dos anos 20, os jogos de elementos geométricos, a escolha das cores, a utilização da fotomontagem, das linhas retas e diagonais e da noção de perspectiva, são espetaculares! Foi como que dar uma 'nova forma e uma nova ordem’ ao modo como se comunicam ideias. Sigo esta premissa.
Por outro lado, trabalhar com outras pessoas e em diferentes contextos tem sido, por si só, uma aprendizagem. Observar e questionar. Este processo tem-me ajudado a entender melhor que tipo de designer pretendo ser.
O teu percurso começou com o Colectivo 4.16, como é que surgiu esta aventura? O que é todos os jovens criativos deviam saber quando se lançam sozinhos?
Éramos 4 recém-licenciados. Irrequietos. Mais do que um emprego com direito a subsídios procurávamos entrar em projetos que nos permitissem experimentar, ter muitas dúvidas e ultrapassá-las. Impulsionados por alguns professores e por pequenos projetos que surgiram dentro da Faculdade, decidimos dar continuidade à ligação que criámos durante o curso. Apelidados de "Colectivo" avançámos na sala "4.16". Foi neste seguimento que desenhámos alguns livros, pensámos uma exposição e concebemos a identidade de uma conferência que questionava onde era o lugar do design em plena crise. O Colectivo era algo que fazíamos por gosto e em paralelo com um "trabalho" que pagava as contas. Foi o espaço que encontrámos, num mercado difícil, para desenvolver os primeiros projetos gráficos reais, essenciais para sermos ouvidos em qualquer entrevista de emprego.
Isto leva-me a concluir que, mesmo passados alguns anos, o desafio continua a ser o mesmo: não ficarmos à espera que as oportunidades surjam. Não considerar nenhum projeto pequeno nem insignificante, mas sim uma oportunidade para testarmos coisas novas. Até quando não corre como o esperado, há-que gerir a frustração e aprender com isso.
A tua perspetiva enquanto designer deve ter sido fundamental no teu trabalho na Fabrica Features. Qual foi maior desafio que enfrentaste e a maior recompensa?
A Fabrica Features pretende ser um local que junta artistas nacionais e internacionais, com uma seleção de produtos pensada para um público que quer ser surpreendido.
Sob a direção do Sam Baron, diretor criativo do departamento de design da Fabrica em Itália, escolhemos a dedo estes projetos criativos. Este foi, sem dúvida, o maior desafio: encontrar um equilíbrio entre as minhas escolhas e aquilo que poderia vir a ser interessante para a maioria das pessoas que visitam a loja. Sempre fui mais sensível aos livros, aos mil e um tipos de cadernos, aos posters (...) ao universo gráfico, no fundo. Fui descobrindo então o fabuloso mundo das cerâmicas, dos objetos inventados e/ou reinventados, dos jogos e brinquedos que apelam aos sentidos. A par deste processo, foi ainda possível desenhar papéis de embrulho, postais, autocolantes... parece-me que toda a experiência foi uma bela recompensa!
Fala-nos sobre a tua experiência com o Studio AH-HA e que projetos destacas durante essa passagem.
Foram quase três anos repletos de desafios! Trata-se de um pequeno atelier (em número de pessoas!) mas enorme na capacidade de se envolver com os clientes em todas as fases do processo, filtrando assim as suas ideias, inspirações e motivações em manifestações gráficas. Conduzida pela Catarina e pela Carolina, esta experiência foi uma lufada de ar fresco na minha perspetiva da prática do design: ensinaram-me que podemos e devemos propor sem limites.
Juntei-me à equipa para trabalhar, essencialmente, com o cliente residente: a Gulbenkian Música. É um projeto que testa a capacidade de resposta: desde outdoors a programas de sala, seguíamos a programação ao detalhe, sem margem para erros nem atrasos. A par deste compromisso, sempre houve espaço para participar ativamente nos restantes desafios que iam surgindo. Descobri aqui que pensar uma "identidade" é das coisas que mais me entusiasma.
Ter estado envolvida em projetos como o laboratório de fármacos Biocol prova-me que é possível redesenhar uma marca extraindo dela mesma todos os elementos necessários. Conhecidos por defender uma abordagem sem químicos, as suas prescrições são baseadas em ingredientes naturais. Daí se retira a palete de cores e se parte para um universo visual onde o objectivo é simplificar a mensagem do medicamento, não apenas através de palavras mas também de imagens. Procurámos um equilíbrio de significados que estabelecesse uma comunicação simples e direta que todos pudessem entender.
De momento, em que projetos estás envolvida que te deixam particularmente entusiasmada?
Nos últimos meses tenho feito parte da equipa de design de um grupo de restauração. Trata-se de uma empresa relativamente grande, onde temos um papel-chave. Estamos neste momento envolvidos na criação de alguns novos espaços – restaurantes que querem proporcionar experiências gastronómicas. Neste sentido, trabalhamos lado-a-lado com os marketers e bem perto dos arquitetos. Procuramos desenvolver identidades que contem a história que está por trás da ementa. O Pesca é um bom exemplo disso. Neste restaurante segue-se o caminho da sustentabilidade, com um total respeito pelos ingredientes. A escolha do papel e a simplicidade dos materiais gráficos tentam evidenciar isso. Este tem sido um desafio bem saboroso!
Fotografia: Diogo Alves / Studio AH-HA